A perda é uma experiência humana universal. Geralmente quando pensamos em perda, pensamos na morte de pessoas queridas. Mas a perda é algo muito mais abrangente em nossas vidas. Perda da juventude, de ideais, de sonhos, de bens materiais, de animais de estimação, de poder, e a perda mais sofrida, a perda de pessoas que amamos, seja pela separação, pelo abandono ou finalmente, pela morte.
Essas perdas fazem parte da vida, são universais e inevitáveis. São necessárias, pois para crescer temos que saber perder, abandonar e desistir. Só crescemos quando desistimos de ser criança e precisamos desistir de tantas outras coisas para crescer: renunciamos sonhos, desistimos da faculdade, mudamos de casa, perdemos o emprego. O sofrimento é inevitável, pois geralmente fazemos investimentos emotivos ao que nos pertence. Amamos pais, filhos e parceiros, amamos nossa casa, nosso carro, aquele colar dado pela amiga, amamos nosso emprego e nosso cachorro. E mesmo não amando nosso celular, sofremos ao perdê-lo, pois nos pertence.
Temos que suportar as perdas e embora algumas possam ser balanceadas pelos ganhos, nem sempre temos consciência deles. Perder tira as pessoas da linha de equilíbrio, perder leva ao sofrimento emocional. Perder dinheiro, perder bens materiais, mas principalmente perder pessoas.
Quando falamos em perder pessoas estamos falando de todo tipo de perda, da pessoa que você perdeu por morte ou por mudança, ou daquelas em que a convivência foi morrendo, ou mesmo da perda pela separação, divórcio ou abandono.
A perda dá origem a ansiedade e esta, apesar de negativa, contém as sementes da esperança, pois podemos “achar” ou “ter” novamente aquilo que “perdemos”. Essa ansiedade nos consome e nos desequilibra por um bom tempo, mas nos mantém em pé. Vivemos nesse período com a sensação de “algo faltando” até que tomamos a consciência de que “se perdeu” realmente, e é preciso ficar frente a frente com esse fato, se permitir “sofrer”. Mas em alguns, essa ansiedade transforma-se em desespero, depressão e protesto e consequentemente em sofrimento extremo. Mas não podemos evitar a morte, o divórcio e muitas outras perdas, então, criamos mecanismos ou estratégias de defesa contra dor da separação. Alguns saudáveis, outros não. Podemos nos tornar indiferentes emotivamente, pois se não amamos, não sofremos. Ou, ao invés de sofrer, ajudamos os que sofrem, ou, infelizmente, “morremos” junto, deixamos de viver, pois julgamos que o que “se perdeu” levou parte de nós. Ou podemos, na melhor das hipóteses, passar por esse processo de forma “mais saudável” - lamentando. “Lamentar” é o primeiro processo de adaptação às perdas da nossa vida. Processo interior difícil e lento, extremamente doloroso, em que desistimos “passo a passo” e chegamos finalmente ao estágio em que aceitamos que há um fim para tudo, até mesmo para as coisas que amamos.
Saber “perder” na vida é o primeiro passo para lidar com os sofrimentos gerados pelas perdas. E poucos conseguem. Perder também é receber “não”. Não gostamos de “nãos”, pois eles nos “tiram algo”, nos contraria. E muitos não aprenderam a aceitar os “nãos” que a vida impôs. Talvez pela criação ou talvez por traumas passados. E a falta de não saber lidar com o “não”, com certeza, é o fator que mais desestrutura quem sofre uma perda. Para essas pessoas a sensação frente a perda é de aniquilamento do eu: "Não sou mais ninguém agora".
Há outros, contudo, que não toleram, ou não sabem lidar com perdas, porque se relacionam com o mundo de forma simbiótica. Necessitam das coisas e das pessoas para complementação de seu próprio eu e quando “perdem”, relatam que se “perdem junto”. Vivem sempre em dependência, necessitando sempre de alguém ou algo para serem felizes. Consideram que só serão felizes se estiverem com ou junto de alguém. Essas pessoas se apegam fortemente umas as outras, e independente de haver paixão, não conseguem se desligar, mesmo num relacionamento destrutivo. É o medo da solidão, do abandono, da perda.
Nas perdas por separação ou divórcio, o grau de dificuldade aumenta quando há filhos, pois será impossível romper definitivamente o relacionamento, sempre haverá questões a serem discutidas. E sempre haverá um pai ou uma mãe para aquele filho. É impossível banir a figura do outro totalmente. E a perda é dupla. A mãe perde o marido, ou vice-versa, e o filho perde o pai. O sofrimento é duplo. Sofremos por nós e pelo sofrimento de nossos filhos. Agora precisamos ficar atentos aos diálogos francos com as crianças, elas aprenderão a lidar melhor com os lutos, perdas e separações de toda ordem se houver verdade nas orientações as quais ela for exposta, logo frases do tipo: “Papai foi fazer uma longa viagem”, “Ele foi para o céu cuidar de alguém” ou “Ela foi para o céu cuidar dos anjos”, etc, pode gerar na criança a falsa expectativa de um retorno e prolongar indefinidamente o período de ansiedade ou de ter sido preterida ou abandonada por aquele que preferiu estar no céu ou viajando e não com ela. Já, numa separação, a criança deve ser informada do fim da união, não da paternidade ou maternidade: "Mamãe e papai não moram mais juntos, não são mais casados, mas você continua sendo nosso filho!".
Outra situação complicada é quando um dos cônjuges sai de casa e abandona a família. Como explicar o fato para as crianças sem fazê-las se sentir culpadas, abandonadas e não amadas? Não há fórmulas, mas usar sempre da verdade é fundamental, mas com cuidado para não destruirmos o outro pela nossa própria raiva. Não devemos incutir raiva na criança. O tempo mostrará a realidade e as verdades para os filhos e não cabe a nós julgar o outro. Quando sempre somos sinceros a verdade vai despontando devagar e os filhos não crescem com a sensação de menos valia, de culpa ou ódio.
Os familiares também precisam ficar atentos aos diálogos francos quanto à realidade do morrer, numa cultura que não educa para a verdade da morte. Acaba-se gerando uma espécie de tabu sobre o tema, porém fiquem atentos, sobretudo os pais: poupar o filho de sofrimentos é impedi-los de crescer. Não se adapta o mundo para nossos filhos, eles é que devem ser adaptados ao mundo! Tanto o adulto quanto a criança precisam viver a perda e aprender a organizar-se. Faz parte do processo de aceitação. Por mais dolorosa que seja a realidade, é com ela que se pode contar para reconstruir a vida. A perda é para o ser humano algo inevitável e pode causar sentimentos de angústia, tristeza ou mesmo períodos de depressão ou estados depressivos para depois reagirmos retomando o ânimo e o interesse novamente pela vida, assimilando a realidade inevitável da impermanência de todas as coisas.
O viver e o morrer, o perder e o não ter, são processos da existência humana, ensinar a criança a lidar com essa realidade desde cedo faz parte da educação e é imprescindível para que ela possa maturar os afetos e as emoções com mais saúde e equilíbrio. É um dever de quem cuida, e se estes têm dificuldades em lidar com o tema das separações, perdas e morte, busquem ajuda e depois revertam esse auxílio as suas crianças, assim, beneficiando sua qualidade de vida e saúde mental.
É lembrem-se, só temos essa vida e cabe a nós escolhermos como vamos vivê-la, intensamente, apesar dos riscos do sofrimento, ou lamentando sempre, deixando-a simplesmente passar.
Veja também: FAMÍLIA: O ALICERCE PARA OS FILHOS DE PAIS SEPARADOS
Veja também: FAMÍLIA: O ALICERCE PARA OS FILHOS DE PAIS SEPARADOS
Oi querida anônima, não publiquei seu comentário para manter sua privacidade. Se preferir use meu e-mail: (estardeficiente@yahoo.com.br)
ResponderExcluirGostaria de poder conhecê-la pessoalmente para lhe ajudar mais nesse período e a não ser que resida na minha cidade ou proximidades, acredito ser impossível.
O que posso lhe dizer no momento é que não existem fórmulas para os problemas, desilusões, sofrimentos e nem para a felicidade. Somos únicos e como tal, também resolvemos nossos problemas de forma variada. Por isso, o que é bom e ajudou alguém, ou o que fez alguém feliz, necessariamente não é a solução para todos. Mas há uma coisa que é universal para as pessoas: “a vontade de querer parar de sofrer e ser feliz outra vez”.
Para aceitar essa nova realidade será preciso coragem e vontade de querer ser feliz. Você perdeu seu referencial afetivo e o desespero que se instala perante essa situação muitas vezes não é prova de nenhuma saudade ou amor perdido, mas a certeza da incapacidade para estabelecer um novo relacionamento, investir de novo, se entregar, etc. Aparece o medo da solidão e esta caminha lado a lado com nossa fome afetiva, carência emocional e vontade de estar com alguém. Nosso sentimento é de morte interior.
Mas você não é uma vítima, não pode pensar assim. Não pode pensar que a culpa é só sua ou que você é um ser que não merece ser amado. Existe sempre alguém, em algum lugar, que complementa nosso eu. Preciso acreditar nisso e mudar algumas atitudes. Quem sabe dar um telefonema para um amigo ou amiga que há tempos não vê, ir a uma padaria diferente, procurar ajudar alguém com um sofrimento maior, convidar amigos para um chá, etc. O sofrimento não diminui entre quatro paredes. Precisa de atitude! Que tal entrar num site de relacionamentos ou numa sala de bate-papo? Já pensou em participar de alguma entidade beneficente ou designação religiosa? Ou até mesmo criar um Blog e compartilhar seus temores, angústias e medos com outras mulheres na mesma situação? Você se espantará com a quantidade de pessoas que encontrará com os mesmos problemas. Se conhece meu Blog sabe que o criei para desabafar e acabou se tornando algo bem maior. E há milhares de outros na internet que foram criados a partir da dor e da vontade de compartilhar, ajudar e ser ajudado. Entre eles, só de exemplo, o da Juliana Carvalho. Conhece? Mantém dois Blogs na internet e escreveu o livro “Na Minha Cadeira Ou Na Tua?”, lançado esse ano pela Livraria Cultura (procure no google e achará os Blogs e livro).
Por enquanto vá digerindo esses conselhos!
Abraços