Quando falamos em comunicação, a primeira idéia que se tem é a da fala. Através dela nos relacionamos com o mundo, manifestamos nossas vontades e desejos, trocamos informações e sentimentos e permitimos ao outro nos conhecer e sermos conhecidos. Mas a comunicação não se restringe as palavras. Ela é muito mais complexa do que apenas a emissão de sons coerentes. Nós utilizamos também de outros recursos não-verbais como os gestos e expressões faciais e corporais que transmitem várias outras informações que as palavras não alcançam.
Em certas deficiências podemos encontrar dificuldades de expressão ou de fala. Alguns podem possuir boa compreensão, contudo não conseguem falar ou mesmo expressar suas vontades de forma que “todos” entendam. Toda mãe sabe, de antemão, o que seu filho deseja apenas observando certos sinais não verbais. Uma mãe me relatou que entendia tudo que seu filho queria, mesmo que não falasse. Ele se comunicava, relatava a mãe. Quando queria água, por exemplo, pegava sua caneca azul e batia na pia, onde o filtro de água ficava, sendo atendido prontamente. Quando queria fazer xixi abaixava as calças e corria de um lado para outro e era levado imediatamente ao vaso sanitário. Bem, apenas com esses dois dados deu para perceber que ele tenta se comunicar com a senhora, respondi. Mas e se ele estiver na minha casa e não tiver uma caneca azul ou o meu filtro de água não ficar em cima da pia? E se ele quiser ir ao banheiro quando estiver no Supermercado? Minha mãezinha respondeu? “- Ele não sai de casa! Ele fica nervoso fora do seu ambiente”. A comunicação deve propiciar a independência, os relacionamentos e a aprendizagem. De que adianta eu mãe, irmão ou família entender o que um membro deseja? E se por ventura a família não puder estar por perto?
Muitas famílias resistem à idéia de um outro sistema de comunicação que não seja a fala. Acreditam que se facilitarem a comunicação através de outros meios vão desestimular a fala ou mesmo substituí-la. Nesse sentido, é sempre bom lembrar que, ao utilizarmos uma outra forma para a comunicação, não queremos substituir a fala, mas contribuir para que a comunicação ocorra e consequentemente a fala. A comunicação alternativa, suplementar ou ampliada enfatiza formas alternativas de comunicação visando dois objetivos: promover e suplementar a fala, garantindo uma forma alternativa de comunicação para um indivíduo que ainda não começou a falar.
Vários podem ser os sistemas alternativos de comunicação, mas há fatores a serem considerados na escolha da melhor forma de comunicação para cada criança ou jovem. Podemos utilizar um sistema específico ou a combinação de vários. Não há padrão! Cada criança ou jovem é que irá nos mostrar o melhor meio a utilizar. Contudo devemos considerar na escolha:
- necessidades e preferências da criança e/ou família,
- necessidades e preferências da criança e/ou família,
- estilo de aprendizagem da criança,
- uso funcional da visão e audição,
- habilidades perceptivas,
- nível de atenção,
- atenção tátil,
- habilidades cognitivas,
- habilidades físicas,
- habilidade do profissional nos vários modos de comunicação.
Comunicação é uma área muito difícil para os autistas. Algumas características dos autistas dificultam a sua comunicação como a distração, a dificuldade de processar instruções orais, manter atenção e organizar informações que estão recebendo. Também têm dificuldade de processar os cincos sentidos (tato, visão, audição, paladar, olfato) de uma só vez, ou mesmo de utilizar mais que um deles de cada vez (integração sensorial). Esta inabilidade de ser compreendido afeta o comportamento podendo gerar maneiras inapropriadas para se comunicar como bater a cabeça, gritar, ou manter hábitos indicadores típicos do autismo. Conseqüentemente, se você estabelecer uma maneira de manter a comunicação, poderá eliminar muitos problemas de comportamento.
O autista ou qualquer pessoa que não fala, precisa encontrar um caminho para se comunicar e, com isso diminuir sua frustração, trabalhar a socialização e seu crescimento como ser humano.
Benefícios da utilização da Comunicação Alternativa ou Suplementar:
- ajuda crianças sem linguagem, ou uma linguagem não funcional, a ter uma “voz”,
- desenvolve a compreensão da comunicação,
- desenvolve o encorajamento para a fala,
- reduz a frustração e comportamentos inapropriados,
- faz com que as escolhas sejam positivas,
- fesenvolve o uso da estrutura da linguagem,
- pode ser aplicado por todos os que rodeiam a criança,
- abertura de leques de escolhas.
Quem pode se beneficiar?
- Pessoas sem discurso verbal,
- Pessoas que têm uma linguagem pouco estruturada,
- Pessoas com autismo,
- Crianças que ainda não desenvolveram um discurso para além da palavra chave,
- Crianças que exibam comportamentos inadequados por não conseguirem se fazer entender.
PECS (Picture Exchange Communication System)
Sistema de Comunicação por Figuras
Sistema de Comunicação por Figuras
O PECS foi desenvolvido nos EUA pelo psicólogo Andrew Bondy e pela fonoaudióloga Lori Frost em 1996 e adaptado para o Brasil pela fonoaudióloga Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter em 1998. Bondy e Frost queriam encontrar uma maneira de ajudar as crianças com autismo a se comunicarem de uma forma funcionalmente fácil, socialmente aceitável e que pais e outras pessoas pudessem aprender sem dificuldades, dando à criança a possibilidade de se tornar mais integrada socialmente e ao mesmo tempo mais independente.
PECS é um sistema de comunicação por troca de figuras que consiste em um modo alternativo e rápido de instalação de comportamento verbal. O método é baseado nos princípios da Análise Experimental do Comportamento e tem sido eficaz no treinamento de comunicação funcional de pessoas com traços autistas (Bondy & Frost, 2001).
O PECS foi originalmente desenvolvido para crianças do espectro do autismo em idade pré-escolar, mas está atualmente sendo usado por crianças e adultos com transtornos do espectro do autismo e outros diagnósticos que apresentem dificuldades com a fala e a comunicação.
PECS é um sistema de comunicação por troca de figuras que consiste em um modo alternativo e rápido de instalação de comportamento verbal. O método é baseado nos princípios da Análise Experimental do Comportamento e tem sido eficaz no treinamento de comunicação funcional de pessoas com traços autistas (Bondy & Frost, 2001).
O PECS foi originalmente desenvolvido para crianças do espectro do autismo em idade pré-escolar, mas está atualmente sendo usado por crianças e adultos com transtornos do espectro do autismo e outros diagnósticos que apresentem dificuldades com a fala e a comunicação.
O PECS é dividido em 6 fases. Na 1ª fase, o objetivo é o de permutar a figura. A troca aqui é totalmente assistida e necessariamente não precisa ser uma figura. Pode ser um objeto concreto. Mais tarde a criança aprende a generalizar essa habilidade de forma que possa se comunicar com pessoas diferentes, em diferentes lugares e por diferentes motivos. Futuramente, algumas crianças poderão produzir sentenças com as figuras em uma "tira" de sentenças expandindo seu vocabulário. Estas imagens podem ser fotos dos objetos verdadeiros ou desenhos dos mesmos; um sistema de símbolos muito utilizado (nacional e internacional) é o Boardmaker, um «dicionário» de imagens e símbolos em suporte informático, que permite criar os símbolos.
O PECS dá à criança a possibilidade de expressar suas necessidades e desejos de uma maneira muito fácil de entender. Muitas crianças que começaram a utilizar o PECS também desenvolvem a fala como um efeito colateral, claro que é um efeito colateral ansiosamente esperado!
Muitas crianças aprendem o intercâmbio fundamental no primeiro dia de treinamento. Um aspecto importante do PECS é que são as crianças que iniciam o processo de comunicação (são elas que iniciam a interação).
Elas aprendem a não esperar ou depender dos adultos para comunicar-se. Elas, imediatamente expressam suas necessidades aos adultos que podem satisfazê-las. Aprender o PECS também tem conseguido um dramático efeito de reduzir as preocupações pelo manejo do comportamento destas crianças, tanto nas escolas como em casa.
Um caso real: (http://sdwest.blogspot.com/)
Jovem de 15 anos, síndrome de West, deficiência mental severa, chamado aqui de João. Sem uso da fala, presença de comportamentos autísticos e totalmente dependente nas AVDs
João chegou trazido pelos pais puxado pelas mãos, andar esteriotipado, nenhuma comunicação verbal, sem contato ocular, esteriotipias motoras com balanço exagerado de corpo, sem entendimento de ordens simples, comportamentos auto-agressivos, sem controle anal/vesical, sem preensão palmar (não pegava nenhum objeto), dependente nas AVDs e alimentação. Os pais relataram que sua única reação era perante a música. Levantava-se pela manhã e se posicionava em frente a estante e balançava as mãos frenéticamente até que ligassem o som. Se fosse deixado ali, com o som ligado, passava o dia todo. Emitia alguns sons sem intencionalidade e os pais relatavam notar também satisfação no banho e em tomar água. Possuía grande defensividade tátil (não permitia toques nem abraços) e medo de caminhar em terrenos irregulares (aqui só um resumo de seus principais comportamentos).
Comecei pela música. Sentei-me ao seu lado (foi feito antes um outro tipo de treinamento para mantê-lo sentado, começando por 5 minutos, chegando até 30 minutos), posicionei o som na sua frente e liguei. Antes, pesquisei várias músicas juntamente com ele. Escolhi uma música repetitiva e ritmada, sem muitas variações tonais, que lhe chamou incrivelmente à atenção (“Rap das Armas”, editei só o refrão). Com certeza a música lhe acalma e satisfaz. Deu para notar seu alívio e satisfação! Toquei inicialmente por 20 segundos e desliguei para ver se notava alguma reação. João se agita, tenta levantar. Seguro em sua mão e digo: “Me dê a mão!” Aperto sua mão levemente e ligo o som. Deixo novamente 20 segundos ligado, desligo por 5 segundos, digo: "Me dê a mão!" Seguro em sua mão, aperto, ligo o som. Repeti isso por 6 meses, três vezes por semana, durante sessões de 30 minutos.
Seis meses depois, ao iniciar nossa sessão, peço-lhe a mão antes de ligar o som, como de costume, e sou prontamente atendida! Tive que controlar-me para não dar pulos e gritar de alegria. Nossa primeira troca foi feita e a partir daquele momento eu sabia que ele poderia aprender mais. Comunicação é troca, e ele havia aprendido isso!
Testei-o naquele dia várias vezes. Desligava o som, pedia sua mão e ele a dirigia em minha direção. Dificultei um pouco mais nas próximas sessões e exigi que a mão me tocasse e acreditem, obtive sucesso. Ampliei então o repertório. Acrescentei a água. Colocava a caneca com água em sua frente à mesa e pedia sua mão. Demorou para João generalizar que podia pedir as coisas com um toque de mão. Tive que repetir milhares de vezes com a música, com a água e com “coca-cola”, a bebida mágica para João. Por um gole de “coca-cola” consegui que João, além de tocar minha mão, que segurasse a caneca e bebesse sozinho.
No caso de João, os reforçadores (música, água e coca-cola) foram utilizados inicialmente em todas as aquisições, sendo a música a maior responsável por seu despertar. Com ela consegui, da mesma forma que usei a solicitação da mão, a fixação do olhar. Agora, ao invés da mão, eu solicitava que olhasse para mim para que eu ligasse o som e fui tentando manter esse olhar por cada vez mais tempo. Com o olhar direcionado, o nível de atenção passou de 5 segundos para 10 em algumas situações.
A família foi orientada a manter as rotinas de respostas e juntos ampliamos sua atuação no mundo. No momento João ainda não fala mas já dá ares de independência. Estamos trabalhando agora com sua preensão palmar. Estou ensinando, da mesma forma, a segurar um objeto e ter sua tão amada música. Não sei de conseguirei chegar com João a troca de cartões que define o PECS. Acho que ficaremos na troca de objetos concretos por mais tempo. Mas o que interessa não é a forma, mas o resultado!
Mas isso relatarei mais tarde!
Maria Helena, queria que tivéssemos uma profissional como vc aqui em Gov. Valadares. Demonstra mt amor pelo seu trabalho, amar essas crianças é fundamental para que se desenvolvam. Venha nos visitar e passar um pouco dos seus conhecimentos para nós. Joana teixeiramedeiros@bol.com.br
ResponderExcluirSou Assistente social de uma instituição para jovens e adultos com deficiência e gostaria muito de conhecer seu trabalho aqui em nossa instituição, acredito que deve ser muito requisitada e por este motivo poderia nos indicar profissionais que trabalham como você.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente trabalho
Contato: sisilopes2010@hotmail.com Simone Lopes
Parabéns pelo seu trabalho.
ResponderExcluirSou Assistente social de instituição de pessoas com deficiência, gostaria muito de sua presença em nossa instituição, acredito que deve ser muito requisitada, poderia também nos auxiliar com indicações de profissionais . Juntos poderíamos realizar uma parceria.
Contato: sisilopes2010@hotmail.com Simone
Oi Simone, onde é seu município?
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