quarta-feira, 15 de abril de 2009

Quebrei os dois braços! Hora da Refeição!


Do Trágico, ao Cômico

(para rir um pouco)

Cheguei em casa com os dois braços engessados. Sentei-me à mesa ainda anestesiada pela adrenalina  e olhei para eles, branquinhos e pesados. Do acidente até aqui  mais de sete horas já haviam passado. O  estômago roncou. "Estou com fome", falei lentamente, intercalando as palavras com curtos ais. Imediatamente uma movimentação estranha começou a se formar na cozinha. Uns corriam pegando pratos e ficavam olhando os fundos e rasos, os grandes e pequenos, sem saber ao certo em qual colocariam minha comida. Paralelamente outros falavam aos cochichos, perguntando uns aos outros como eu iria comer, ir ao banheiro e que ossos e quantos eu havia quebrado - engraçado como as pessoas sempre fazem as mesmas perguntas e como têm curiosidade sobre as mais estranhas situações! Depois de muito correrem pela cozinha, se atrapalharem e se trombarem chega minha comida: arroz, feijão, carne moída com batata e cenoura cozidas com um prato raso de alface picadinha, um mísero prato raso. Um copo foi colocado ao meu lado só com um pouquinho de coca-cola dentro. Minha mãe sentou-se ao meu lado com o prato, um garfo, uma colher e uma faca. Colocou tudo na mesa, pegou o garfo e começou a amassar a minha comida, misturando tudo e transformando-a numa papinha marrom. A colher era usada para ir misturando os amassados e a faca, bem, não fiquei sabendo sua utilidade.

Hora da primeira garfada. Abri a boca, meio tímida. Nós, os que somos alimentados, temos que abrir a boca um pouco mais do que o usual, pois corremos o risco de errarem o alvo e sermos espetados nos lábios. Então, abri bem a boca e ... recebi uma "bolotinha" de papinha que veio bem acomodada na pontinha do garfo. Não deu tempo de mastigar, desceu direto! E assim foi, lentamente, garfadinha atrás de garfadinha com um pinguinho de comida em cada uma. De repente olhei para o copo, a faca estava ao lado ainda sem utilidade, e imaginei ter que beber aqueles 3 dedinhos de coca, golinho após golinho, e solicitei desesperadamente um canudo. Este foi acomodado no copo que foi empurrado para o centro da mesa. Afinal de contas, com todo aquele gesso, eu poderia derrubá-lo. Pedi a coca. Minha mãe pegou o copo, posicionou embaixo da minha boca que tentava alcançar o canudo que rodava no líquido (incrível observar como ficamos burros frente à situações inesperadas). Esse é o motivo de tão pouco líquido, pensei, não vou conseguir beber mesmo! Aí a "criatividade", pobrezinha nessa área, começou a dar seus ares. "Coloque o copo em cima da mesa, na minha frente, que eu alcanço o canudo", falei! Bebi? Não! Você conhece aquele canudinho sanfonado, que vc dobra e dirige para a boca? Pois é, ele estava dobrado em angulo de 90º, logo abaixo do meu queixo, fazendo com que eu tivesse que abaixar a cabeça, sem alcança-lo, da mesma forma. São tantos detalhes para pensar ....

As pessoas não sabem como se portar frente ao inesperado, ao que funciona de forma diferente. Fomos treinados para responder ao usual, ao comum, ao que funciona dentro dos padões. Minha mãe não me via apenas como alguém que não podia usar as mãos, ela me via como incapaz e doente, daí sua necessidade de me alimentar como um bebê, com direito a papinha amassada, pouca quantidade e pequeninas colheradas.

Bem, superada a comida e bebida, chegou a hora da alface, picadinha em minúsculos pedacinhos, num suculento prato raso bem a minha frente. Não pensei duas vezes, "será que terei que comer pedacinho por pedacinho, um de cada vez?" O cérebro já treinado, não pensou duas vezes, atacou de boca!!!

* Ei você, que chegou até aqui e leu esse post, não esqueça de deixar seu comentário. Gostaria muito de saber  quem você é e como chegou até aqui. * Beijos
 


2 comentários:

  1. Oi Mariza.. Primeiramente espero que se recupere rápidamente...
    É interessante como passamos por tantas dificuldades com alguma limitação (física ou mental) temporária, temos que aprender e desenvolver habilidades especiais ou em alguns casos sobre humanas para superar esses "desafios" que outrora pareciam coisas banais...
    É importante que possamos ver essas dificuldades nas pessoas "especiais" e possamos sempre ajudá-las (como você vem fazendo) a buscar soluções e também melhores condições de vida e acessibilidade a elas... Um grande beijo...

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