sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Troca - Pirando no Hospital

Hoje já existe no mercado um gesso de fibra de vidro impregnada com resina de poliuretano, o gesso sintético. Segundo a propaganda é super leve (aproximadamente 4 vezes mais leve), resistente, não causa coceiras, pouco volumoso, o que permite vestir a roupa normalmente, resistente à água, possui várias cores, é radiotransparente, não requer reparações, o endurecimento é rápido, e o detalhe mais importante: custa uma $fortuna$!

Eu estava carregando 2,5 Kg em cada braço, ou seja, 5 Kg a mais para a coluna. Minhas costas estavam arrebentadas! Para piorar, comecei a apresentar alergia ao gesso tradicional Minha filha, querendo diminuir meu sofrimento, me presenteou com um lindo par de gesso sintético azul-céu. Tratou com o médico, mandou buscar o gesso em São Paulo e lá fomos nós para a Santa Casa trocar o gesso (isso foi em 22/04).

Como é de rotina, radiografa-se primeiro os braços e ... ambos não estavam na posição correta. Bem, juntou-se o útil ao agradável, e lá fui eu para o Centro Cirúrgico ser anestesiada para "quebrar de novo" e colocar no lugar, aproveitando agora para colocar meu lindo gesso azul-céu.

Pirando com a anestesia

Ao entrar no Centro Cirurgico o medo chegou. "Tanta gente morre de anestesia de dente, quanto mais de geral", pensei. Na hora do medo o sistema nervoso envia impulsos para as glândulas e músculos lisos e diz à medula adrenal para liberar adrenalina e noradrenalina na corrente sangüínea. Esses "hormônios do estresse" efetuam várias mudanças no corpo, incluindo um aumento na freqüência cardíaca e na pressão sangüínea. Ao mesmo tempo, a glândula Pituitária libera um hormônio que ativa aproximadamente mais outros trinta hormônios diferentes para preparar o corpo para lidar com a ameaça. Não pensamos nessa hora. Estamos "embriagados" de substâncias que só nos fazem pensar em correr ou fugir. Somos pura emoção. A maioria de nós não precisa mais lutar ou correr por nossas vidas na selva, mas o medo está longe de desaparecer, pois continua servindo ao mesmo propósito que servia na época em que se encontrava com um leão enquanto se trazia água do rio: sobrevivência. Comecei a pensar no "Datena". Havia assistido alguns dias atrás uma reportagem sobre mortes por anestesia. Indignado, ele relatava o caso de uma menina de 5 ou 6 anos que deu entrada em um hospital por uma unha inflamada, foi anestesiada e ... morreu! Especialistas entrevistados criticavam a postura do anestesista, pois os procedimentos básicos, como questionar a mãe sobre possíveis alergias medicamentosas, alimentares e sobre o estado geral de saúde não haviam sido seguidos.

Já na mesa de cirurgia, comecei a olhar para os lados a procura do anestesista, a ansiedade crescia, pois ninguém me perguntava nada. "É a mim que deveria ser perguntado!", eu pensava. Imaginava eles bombardeando minha filha de perguntas sobre mim e ela apavorada sem saber o que responder. Afinal de contas, são as mães que sabem tudo dos filhos e não ao contrário.

"Vamos pegar a veia no pé", alguém ao fundo falou. Imediatamente eu retruquei: "Ninguém vai pegar veia nenhuma sem antes fazer as perguntas de rotina". Dois médicos, ou melhor, um casal de médicos se aproximaram pela lateral e perguntaram quase que juntos: "Que perguntas?" "Não quero morrer de anestesia", respondi e comecei a desfilar minha saúde para os dois. A anamnese foi completa! Relatei tudinho! Não precisaram perguntar nada e ... apaguei!

Acordei no final do engessamento azul-céu e já queria ir embora. Me sentia muito bem. A anestesia deixa a gente feito um bêbado: inconvenientes, falando "abobrinhas", com amnésias, etc. Acho que me sacanearam! Falei tanto dos perigos da anestesia que me mandaram para a observação. Tirei um cochilo e ao acordar vi uma enfermeira. Chamei-a e perguntei se já poderia ir embora. Muito educada ela falou que iria averiguar e buscar as minhas roupas. Minutos depois um enfermeiro enorme chega com uma maca prá me levar. "Prá onde?", eu pergunto. "Vou embora e posso ir andando, só quero minhas roupas". Ele conseguiu convencer-me a ir para a maca, mas deitar nela ele não conseguiu convencer-me. E lá fui eu pelos corredores sentada na maca com os braços azul-céu levantados até o ... 3º andar. Internada! Me internaram!

Em vão eu tentava explicar que não havia feito nenhuma cirurgia e que estava esperando minhas roupas... Bem, acho que pensaram que eu ainda estava anestesiada e nem deram bola. Nesse tempo, um enfermeiro chega na porta do quarto com outra maca e diz: "Vim te buscar, vou lá pegar seu remedinho"... "Que remedinho?", pensei. Pois não é que ele havia vindo buscar um paciente para cirurgia? Não eu, mas quem ocupava o quarto antes de mim. Como eu teria que ficar 8 horas em observação e não haviam quartos disponíveis, mandaram a paciente do 312 um pouco antes para a sala de cirurgia, assim eu ocuparia seu quarto. Mas não avisaram o enfermeiro. Coincidentemente a auxiliar de enfermagem do meu andar chegou com um "remedinho" prá mim, que logicamente, não tomei. Caos formado! Comecei a me exaltar e pedir para ir embora. Só falei "abobrinha"! O enfermeiro da maca, ainda sem entender, pergunta: "É ela quem vai operar de varizes?" Bem, imaginem o resultado. "Quero meu médico!", "quero ir embora", "quero meu prontuáro", "quero minhas roupas", eu gritava. Em vão, tentaram me acalmar. Meu médico teve que ser chamado e ... me deixou ir embora para felicidade geral do 3º andar. E lá fui eu toda brava de gesso azul-céu. Ah, ia me esquecendo, o meu remedinho era para dor, mas eu não tomei, ai, ai, ui.

Mariza Helena Machado

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