13. MARY and MAX - Uma Amizade Diferente, 2009
De Adam Elliot
Elenco: Vozes na versão original de Toni Collette, Philip Seymour Hoffman, Eric Bana, Barry Humphries. Austrália, 2009
Mary and Max é baseado em fatos reais. O diretor usou sua própria experiência e de um amigo Aspie com o qual se correspondeu por muitos anos. O filme foi desenvolvido com a técnica do stop-motion e finalizado com a ajuda da computação gráfica. Trata-se de uma animação, aquelas de massinha como A Fuga das Galinhas entre outros, e conta um pouco da vida dos personagens que dão título ao filme, Mary e Max. É quase que todo narrado e com poucos diálogos.
O filme acompanha dois personagens solitários, cujas vidas se cruzam pelo maior dos acasos: uma página aleatória aberta em uma lista telefônica. Motivada por uma dúvida infantil, a australiana Mary Daisy Dinkle, 8 anos, decide escrever ao nova-iorquino Max Jerry Horowitz, um judeu de 44 anos. Junto à carta, alguns desenhos, uma barra de chocolate e a dúvida: "de onde vêm os bebês nos Estados Unidos?". Mary um dia perguntou aos seus pais de onde vinham os bebes, e foi o seu avó quem lhe respondeu, ele disse a Mary que os bebes eram encontrados por seus pais no fundo de copos de cerveja. Daí o motivo de sua dúvida. A correspondência inocente muda a vida de ambos para sempre, iniciando uma história em 1976 e transcorrendo por quase duas décadas. Na troca de cartas, Mary confidencia detalhes de sua rotina como o bullying que sofre na escola, sua paixão pelo desenho Noblets que passa na TV e o conforto que encontra em uma lata de leite condensado, enquanto Max revela seus três objetivos na vida: conseguir a coleção completa de bonecos dos Noblets, da qual também é fã, ter um estoque de chocolates e encontrar um amigo.
Mary é gordinha e possui uma marca de nascença na testa, que, segunda ela própria, tem cor de cocô. Também é desajeitada e muito curiosa. Sua mãe é uma alcoólatra depressiva e seu pai trabalha numa fábrica de pregar cordões nos saquinhos de chá e nas horas vagas se enterra no porão empalhando animais.
Max já é um senhor, vive em Nova Iorque e freqüenta os vigilantes do peso e seu Psiquiatra. Extremamente ansioso e tímido, passa a vida sozinho. Ele tem a Síndrome de Asperger, mas prefere ser chamado de Aspie. Vive recluso em sua casa, não entendendo as reações e atitudes das pessoas, principalmente o fato de jogarem bitucas de cigarro no chão. Se balança sem cessar quando se defronta com algo diferente e possui uma dificuldade enorme em entender as expressões faciais, tanto, que carrega um mini caderninho com as principais expressões faciais das pessoas. É viciado em cachorro quente e chocolates. Ambos são cheios de pensamentos filosóficos sobre a vida, que só diferenciam-se pela diferença etária.
Mary e Max é uma dessas agradáveis surpresas que o cinema nos presenteou. Abriu o Festival de Sundance, ganhou o Crystal Bear (prêmio para a nova geração) no Festival de Berlim 2009, entre outros.
O filme critica a sociedade “autista” e do pouco contato em que vivemos, mostrando os vícios e as fobias dos personagens, não só dos protagonistas como também dos coadjuvantes. Mary e Max é uma viagem que explora a amizade, o autismo, o alcoolismo, de onde vêm os bebês, a obesidade, a cleptomania, a síndrome do pânico, o suicídio, o desemprego, a diferença sexual, a confiança, diferenças religiosas e muito mais. Sem esquecer em alguns momentos de dar umas cutucadas nas questões ambientais.
Mary cresce, se gradua em Psicologia e usa a experiência da amizade para publicar um Manual sobre a Síndrome de Asperger. O que acontece quando as duas visões de mundo se encontram é tristonho, mas profundo e muito bonito.
Essa amizade acaba se tornando uma grande jornada de compreensão, um do outro, de si mesmos, da vida e do mundo que os cerca, mesmo que distorcido pela visão asperger de Max e a visão infantil e depressiva de Mary.
Uma frase, aparentemente simples, dita pelo médico de Max, Dr Hazelhof, resume o filme: “a vida de todo mundo é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas, outras (…) têm fendas, cascas de banana e bitucas de cigarro”.
Outra característica interessantíssima da animação é a forma como expõe as cores. O mundo de Max é em preto e branco, pois ele vê tudo em escalas de cinza. Já Mary vê tudo em marrom, por isso sua parte é retratada assim.
Os temas do filme e a forma como são abordados deixam claro que não se trata de um filme para o público infantil, tanto que a classificação é para crianças acima de 12 anos.
Mas o que mais me chamou atenção foi que o diretor, Adam Elliot, ganhou o Oscar de melhor Curta de Animação em 2003 por outro desenho: Harvie Krumpet. É a biografia de um homem bizarro chamado Harvie Krumpet, que nasceu com Síndrome de Tourette e teve uma inância triste e solitária (depois que eu ver passo para vocês).
Um dos melhores filmes que já assisti sobre a Síndrome de Asperger. A sensibilidade com a qual o diretor trata os temas presentes no cotidiano e a discriminação é digna de parabéns!
Um dos melhores filmes que já assisti sobre a Síndrome de Asperger. A sensibilidade com a qual o diretor trata os temas presentes no cotidiano e a discriminação é digna de parabéns!
Muito legal o seu trabalho. Parabéns! Também tenho um blog que trata questões diversas da educação especial/inclusiva. Há filmes diversos, artigos, livros, reportagens etc. Se quiser conhecer e participar fique à vontade (http://www.educacaoinclusiva-seo.blogspot.com)
ResponderExcluirAbraço, Sílvia Ester