Artigo gentilmente cedido pelo BLOG DA AUDIODESCRIÇÃO
Conforme  já foi noticiado pelo Canal E-Braille, as emissoras de televisão terão  até julho de 2011 para inserirem, em suas transmissões, o recurso da  audiodescrição.
Essa é uma iniciativa que já está mais do que na hora de ser implantada.
Ao  assistirmos a um filme ou a um programa de TV, nós, que temos  deficiência visual, nos apropriamos apenas das informações sonoras, e  somos excluídos do acesso a todo o conteúdo que é veiculado por meio da  imagem.
Por  isso, a audiodescrição é uma ferramenta essencialmente inclusiva, à  medida que nos garante um acesso pleno e sem restrições a qualquer  conteúdo audiovisual.
Entretanto,  precisamos lembrar que, até o momento, já vivemos um longo período sem  contarmos com esse recurso. Ao longo desse tempo, nossa experiência já  nos possibilitou que adquiríssemos uma capacidade de prestarmos atenção  em detalhes sonoros contidos nos filmes e programas de tv, os quais  talvez passem despercebidos por aqueles que estejam vendo com os olhos.
Desse  modo, aprendemos a deduzir o conteúdo da cena de um filme, ainda que  ele não esteja audiodescrito. Diante da televisão ou de uma tela de  cinema, nós, que somos cegos, costumamos ser bastante imaginativos, e  construímos , em nossa mente, os cenários ali apresentados.
O  recurso da audiodescrição poderá então enriquecer nosso modo particular  de sermos telespectadores, e, assim, sua implantação será muito  bem-vinda!
Mas  é preciso considerar que essa ferramenta não está presente apenas no  âmbito do cinema ou da televisão. Em nosso cotidiano, precisamos, em  muitas ocasiões, recorrermos a ela, para compreendermos melhor o  ambiente que nos cerca.
Já  não falo aqui da audiodescrição enquanto um recurso tecnológico, mas  sim, enquanto um recurso que faz parte da interação entre nós e as  pessoas videntes.
Quando  vamos a um restaurante self-service, por exemplo, necessitamos que  alguém nos descreva os pratos disponíveis. Se entramos em um  estabelecimento desconhecido, precisamos de alguém que nos informe sobre  a localização de suas dependências e sobre a forma como aquele ambiente  está organizado. Ao desfrutarmos de um passeio, ficamos gratos quando  alguém pode nos descrever a paisagem que circunda o lugar por onde  estamos passando.
É  muito importante destacarmos que, por um lado, uma audiodescrição nunca  pode ser tendenciosa. Aquele que descreve algum aspecto do ambiente  deve fazê-lo sem emitir seu próprio julgamento ou opinião acerca do que  vê. Issso possibilita que o ouvinte esteja livre para adquirir, por si  mesmo, a sua impressão sobre aquilo que lhe é descrito.
Mas,  por outro lado, discordo da idéia de que a audiodescrição deva ser  totalmente desprovida de emoções. Afinal, o audiodescritor tem a função  de fazer com que seu ouvinte se sinta tocado por aquilo que ele esteja  descrevendo. E esse encantamento só pode surgir pela via da emoção.  Assim, uma descrição fria ou, digamos, “robotizada”, cria um  distanciamento entre o ouvinte e o objeto descrito, e, desse modo, perde  sua finalidade.
O audiodescritor precisa, portanto, adquirir um equilíbrio entre a neutralidade e o afeto, entre a objetividade e a poesia.
De  fato, poderíamos dizer que a audiodescrição, entendida como uma  habilidade, se faz presente em todas as pessoas que se comunicam bem. Um  bom comunicador está habituado a usar, com muita naturalidade, esse  recurso.
Um  professor competente, por exemplo, é naturalmente um bom  audiodescritor. Sua fala é tão convincente e tão bem articulada, que ele  praticamente não precisa de ferramentas visuais para conduzir suas  aulas. E isso independe da presença de um aluno cego na turma!
Se,  em um dado momento, esse professor recorre a um gráfico, ele  automaticamente o descreve, explicando o sentido daquela figura. Suas  explicações são suficientes e o gráfico mostrado não passa de uma mera  ilustração.
Um  bom professor não precisa, durante sua aula, se dirigir especialmente a  um aluno cego, para lhe dizer: “Agora vou descrever essa figura para  você.” Sua habilidade de áudio-descrever é tão natural e fluente que, em  sua fala, ele abrange todos os estudantes.
Pode-se  compreender, então, que essa lei, voltada especificamente às emissoras  de televisão, nos leva a promover reflexões mais abrangentes, ligadas às  nossas relações cotidianas.
E talvez este seja o maior impacto dessa legislação.
Fonte: Cosmo Online
 

 
 
 
 
 
 
 


 
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