3. UMA MENINA ESTRANHA - Autobiografia de uma autista
De Temple grandin e Margaret M. Scariano, Companhia das Letras, 1999
Autobiografia da engenheira e bióloga Temple Grandin, que bem cedo foi diagnosticada como autista (hoje está com 62 anos).
Conversando com o neurologista Oliver Sacks, ela pronunciou uma frase que dá bem a medida de como o mundo lhe parece estranho: "A maior parte do tempo eu me sinto como um antropólogo em Marte". Essa frase deu origem ao livro “Um antropólogo em Marte”, de Oliver Sacks, onde ele relata 7 casos clínicos extraordinários, sendo o último o da própria Temple.Até os três anos e meio, Temple só se comunicou por intermédio de gritos, assobios e murmúrios de boca fechada. A sua mãe percebeu que já aos seis meses ela não se aninhava no colo: ficava rígida, rejeitava o corpo que queria abraçá-la. Na escola, batia na cabeça das outras crianças. Em vez de argila ou massinha sintética, usava as próprias fezes para modelar e espalhava as suas criações pelo quarto. Às vezes ignorava sons altíssimos, mas reagia com violência aos estalidos de uma folha de celofane. O cheiro de uma flor recém-colhida podia deixá-la descontrolada ou fazê-la refugiar-se no seu mundo interior. Somente quando já tinha quase trinta anos conseguiu dar um aperto de mão e olhar nos olhos de outra pessoa. Construiu uma "máquina de abraço" para pressioná-la sem o desconforto intenso que um outro corpo humano provoca nela. “Nossos corpos pedem o contato humano”, diz Temple, mas nossa hipersensibilidade não nos deixa desfrutar desse contato, não temos o controle, por isso, nos retraímos.
O grau de autismo de Temple não é o mais alto, e por isso o mundo que ela criou não se parece com uma fortaleza onde ninguém pode entrar. Temple tornou-se uma profissional extremamente bem-sucedida. Projeta equipamentos e instalações para a pecuária. Todos os corredores e currais que desenha são redondos, pois o gado tem mais facilidade em seguir um caminho curvo - primeiro porque, não vendo o que há no fim do caminho, fica menos assustado; segundo porque o desenho curvo aproveita o comportamento natural do animal, que é descrever círculos. Ela faz uma analogia: com as crianças autistas é preciso agir do mesmo modo, isto é, trabalhando a favor delas, ajudando-as a descobrir e desenvolver seus talentos ocultos.
De certa forma, esta autobiografia diz-nos que todas as pessoas se podem tornar menos "estranhas".
Obs: Temple, na verdade, possui a Síndrome de Asperger, uma forma de autismo funcional, sendo que seus relatos nos mostram, com grande clareza e objetividade, as atitudes e o modo de ser dos autistas, devendo ser leitura obrigatória a todo educador e pais de autistas ou de Aspies.
Mariza Helena Machado
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