domingo, 7 de junho de 2009

Estou doente e voce?

Algo me intrigou muito na semana passada ao passar pela Perícia do INSS. Sim, eu estou “encostada” no INSS. Acho melhor dizer “amparada”, pois “encostada” me dá a impressão de “parasita grudado”, que suga ou algo “escorado”, que pode cair. Nunca um termo tão corriqueiro me incomodou tanto. Estou “amparada” recebendo o “meu” dinheirinho que eu deposito fielmente todo mês em forma de contribuição previdenciária e não "encostada" sugando algo que não me pertence!
Bem, mas não foi isso que me intrigou tanto e sim o fato de ao entrar na sala da perícia fui questionada sobre qual é a “minha doença”. Por um instante fiquei muda procurando um nome para minha doença. - "Estou doente e não sei o nome da minha doença", pensei, mas respondi: - "Estou em reabilitação por um acidente e não doente!" O médico levantou seus olhos para mim e nada falou. Me senti nessa hora muito “doente, impotente e encostada”.
Mas o que vem a ser doença? Não me sinto doente, enferma, nem com alguma afecção ou moléstia, mesmo o INSS me julgando assim. Mas resolvi dar uma olhada nos conceitos e ver se me encaixava em algo.
O termo Afecção provém do latim affectione, ação de afetar, influência; estado resultante da influência sofrida; modificação. Fiquei pasma, pois acho que possuo uma afecção, já que meu estado atual é resultante da influência do tombo. Já, Doença, em latim, era designada por morbus, donde mórbido, morbidade, morbífico, morbígeno, etc, e também por dolentia, de dolens, entis, particípio presente do verbo doleo, dolere, sentir ou causar dor, afligir-se, amargurar-se. Em latim estou doente, já meu estado pode ser chamado de mórbido e também porque senti muita dor, me afligi e até fiquei amargurada com a minha situação. Enfermidade corresponde ao latim infirmitas, atis, de infirmus, que, por sua vez, resultou da fusão do prefixo in (negação) + firmus, firme, robusto, saudável. Denota, portanto, debilidade, fraqueza, perda de forças. Enferma, com certeza também estou, já que minhas mãos não estão nem um pouco firmes e com força. Moléstia provém de igual palavra latina, molestia, que exprime enfado, incômodo, estorvo, inquietação, desassossego. Pensando por esse ângulo, tenho uma enorme moléstia que me causa tudinho o que a palavra exprime.
Assim sendo, cada uma das palavras têm seu conteúdo semântico próprio. Afecção expressa as modificações sofridas pelo organismo resultantes da ação de uma causa; doença traduz o sofrimento, a dor que acompanha os estados patológicos; enfermidade caracteriza o enfraquecimento, a debilitação do organismo; e moléstia reflete a sensação de desconforto e mal-estar que acompanha o estado mórbido.
E já que rotular é peculiaridade da raça humana ... Estou doente e não sabia disso! O pior é que também possuo uma afecção, uma enfermidade e uma moléstia e ninguém me disse isso.
Estou sem saúde também, já que alguns insistem em dizer que doença é ausência de saúde e vice-versa. Outros já falam que saúde é o perfeito bem estar do ser humano no meio onde vive de modo a satisfazer todas as suas necessidades básicas, e a doença é a falta de uma ou mais necessidade de modo a causar danos ao ser humano. Já que não estou em "bem estar", possuo uma doença e nem todas as minhas necessidades estão sendo satisfeitas, então estou mesmo sem saúde, coitada de mim ...
Mas não estou sozinha nesta. Acho que todos nós temos uma afecção, já que nossa vida é o resultado de várias influências sofridas. Somos também doentes, pois vivemos afligidos e amargurados. Podemos nos considerar também todos enfermos, já que nem sempre somos firmes e fortes. E por fim, somos uma legião de moléstias, já que o desassossego, o enfado e a inquietação nos acompanha constantemente. E nem todos têm saúde também, já que nem sempre podemos satisfazer nossas necessidades.
Sorte a minha ter tantos doentes me fazendo companhia. Já foram buscar seu auxílio-doença?


Mariza Helena Machado

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