terça-feira, 30 de novembro de 2010

CLAMOR DE UMA CRIANÇA CEGA - Ensina-me a ser independente!

Costumo utilizar esse texto para trabalhar com pais de crianças cegas. É um texto maravilhoso e expressa as principais necessidades de aprendizagem da criança que não pode ver. o texto original é em inglês, contudo foi traduzido para o português de Portugal o que dificulta o trabalho com os pais. Adaptei-o à realidade brasileira e ao português falado aqui.


Sherry Gaynor

Texto traduzido para o português de Portugal por Maria Josefina V. C. Ramos, Centro de Produção de Material, CRSS, Lisboa, 1995. Texto disponível em http://deficienciavisual.com.sapo.pt/txt-ensiname.htm

Adaptação própria para o português do Brasil por Mariza Helena Machado, 2007.


Ensina-me a ser independente! Ensina-me a fazer as coisas por mim - a pensar e tomar as minhas próprias decisões. Ajuda-me a decidir por mim! Ajuda-me a controlar a minha vida, porque mais tarde ou mais cedo... vou ter que ser EU!

Ensina-me a ouvir! Ensina-me quais os sons que existem em casa: a água a correr, a chaleira que ferve, os ramos das árvores que batem nas janelas, o ronronar do gatinho, uma carta de baralho a cair, os sons estranhos de um aerosol, o barulho da geladeira. Quando os sons se misturam todos, ajuda-me a distingui-los!

Ensina-me a ouvir cuidadosamente! Avalie se eu consigo dizer se os sons estão perto ou longe. Ajude-me a saber quais sons são perigosos e quais não são. O que é que está a tilintar? De onde vem aquele barulho? A porta está fechada ou aberta? Se eu ouvir bem, ajuda-me a me mover facilmente. Preciso de ouvidos muito grandes!!!

Ensina-me as relações espaciais! Isto é, as relações do meu corpo com as coisas à minha volta. A que distância de mim está o abajur? Onde está o abajur? Posso pegar no copo sem o deixar cair? Dá-me orientações precisas para que eu possa deslocar-me para as coisas que estão longe. Onde estou? Onde estás?

Posso andar em casa sozinho se as passagens para os cômodos estiverem desimpedidas e se não deixarem coisas espalhadas no chão! Quando engatinhava e encontrava coisas à minha volta... era muito bom... mas agora levo um susto tremendo se tropeço nos sapatos do papai!
Tenho que andar pelos meus pés. Preciso saber quando tenho que virar à esquerda ou à direita. Preciso tatear pelas paredes para poder perceber o tamanho e o nome das coisas. Provavelmente levarei mais tempo do que se me levares com você, mas tenho que começar a praticar já para poder treinar durante o tempo em que está ocupada.

Não digas "aqui" ou "ali". É muito difícil saber onde o "aqui" e o "ali" estão, pois não posso ver! Use palavras que digam realmente onde estão as coisas e para onde vou: "Coloque o livro na mesa da sala de jantar!"; "Vem para o quarto e ajuda-me a arrumar os teus brinquedos!"
Lembras-te? Preciso recordar muitas coisas: onde é o meu quarto, onde deixei as calças, a que distância ficaram, o que fiz ontem. Como não posso ver tenho de aprender a recordar melhor do que você. Então, pergunta-me sempre tudo!

Converse muito comigo. Preciso ouvir os nomes das coisas que tenho à minha volta: armários, mesas, portas. Não tenha medo de usar muitas palavras para descrever as coisas. Preciso ouvi-las para poder perceber como se juntam e quando se usam. Fala comigo quando estou ajoelhado, quando estou a saltar, quando me comporto mal. Dê-me instruções precisas: " Vá sempre em frente!"; " Agora são 5 degraus" ; " Vire à direita!"

Coloca-me ao teu lado enquanto faz os trabalhos domésticos. Fala comigo e mostre-me o que está fazendo: quando estende a roupa, limpa o pó, a geladeira ou lava as janelas. Deixe-me tocar e participar daquilo que está a fazer, para eu começar também a ser auto-suficiente. Deixe-me sempre tentar fazer as coisas!

Eu posso ajudar!  Dê-me trabalhos domésticos para fazer: posso ser eu a levar a minha roupa para o cesto da roupa suja, posso pôr a mesa, tirar os pratos e lavá-los. Preciso da tua ajuda para perceber que os pratos não são todos iguais. Diz-me porquê! Explica-me!
Diga-me o que está cozinhando e deixa-me ajudar-te. Posso ser eu a colocar os ingredientes na tigela depois que você os separou para mim. Posso mexer com a colher se me ajudares a praticar. Que utensílios se usam? Para que servem? Vamos cozinhar!
Gostos, cheiros, texturas. Não se esqueças de me dizer o que estou comendo. Diga-me também o que estou a saborear: os picles são doces ou azedos? A geléia é macia e pode ser de laranja, morango ou limão. A carne pode ser de vaca, de porco ou de galinha. As coisas que se comem podem ser duras, granuladas, doces, etc.
Deixe-me comer com os dedos! Provarei mais alimentos se os comer dessa maneira. Cachorros quentes, frango, churrasco, batatas fritas... mesmo alhos ou cebolas! É tudo tão diferente!

Deixa-me brincar com "porcarias". Ajude-me a meter as mãos na massa, a fazer hambúrgueres, a fazer bolos... A minha primeira reação pode ser de resistir, mas encoraja-me! Não desistas! Poderei vir a gostar!

Preciso fazer comparações. Não só comparações de bolas, brinquedos e cubos, mas também de coisas do dia-a-dia. Ensine-me que os sapatos do papai são maiores que os meus; que você é maior que eu. Preciso tocar na minha cadeira para sentir que é menor que a sua. As panelas também têm tamanhos diferentes: a pequena cabe dentro da grande, mas não se faz o contrário!

Brinca comigo. Dá-me clipes, botões, tampas. Misture-os e depois me peça os botões. Misture as roupas do papai com as minhas e depois me pede as do papai!

Leia muito para mim. Isso me dá uma sensação de proximidade do teu calor, a tua atenção é só para mim! Adoro ouvir as tuas palavras e aprenderei a dizê-las mais tarde. Ler alto ensina-me a gostar de livros e de ler. Mostra-me alguns livros em braille para eu poder sentir aquilo que tenho que aprender. Descreve-me as imagens. Pergunta-me coisas e responde-me a tudo! Ler é tão interessante!
Tire algum do teu tempo para leres para mim. Gosto de ouvir. Quanto mais ouvir, mais aprenderei também. Se disseres palavras que ainda não entendo, explica-me o seu significado.  Anedotas, revistas, poemas, romances.  Algumas histórias são ficção, outras são verdadeiras... ensina-me quais são o quê! Ler, ouvir, aprender.

Brinca comigo de "faz de conta". Finge que você é o bebê e eu o papai ou a mamãe. Use os alimentos da cozinha e finge que estamos numa loja e que sou eu quem vai às compras. Faça me imaginar ser um macaco e ensina-me a saltar e a pular, ou a nadar como um jacaré!
Preciso e posso brincar sozinho. Preciso só que vá buscar os meus brinquedos. Posso pôr os meus cds. Posso colar papéis, porque já aprendi a mexer na cola. Ajude-me a gostar de fazer coisas sozinho!

Gosto de recortar. Posso cortar muitos papéis e colá-los para formar um número ou uma letra. Posso sentir a madeira, o plástico, o papel - tantas texturas e formas!

Quando eu era pequenino tinha que me vestir. Agora que sou maior, preciso de saber vestir-me sozinho. Despir é mais fácil do que vestir!

Que horas são? Preciso saber as horas. E também se é manhã, tarde ou noite. Dê-me pistas sobre o que se faz nessas horas! Almoço antes da tarde, ir à escola de manhã, para a cama à noite. Ensina-me a acertar o relógio! Ontem! Que é  "ontem"? - "Ontem foi quando fomos à loja de sapatos, lembra-te?"

O que è a temperatura? 40º? Está calor lá fora! 2º? Brrrr! Que frio! Por vezes diga-me o que é quente, mas também diga-me que o forno está mais quente e me queima! Diga-me todos os dias a temperatura lá fora. Quente, frio.

Use um horário comigo. Isso me ajuda a sentir seguro se souber o que vou fazer a seguir. Não sejas rígida, mas é bom ter um horário para comer... para ir para a cama... Assim, já sei que há um tempo para certas coisas!
Ajuda-me a usar o telefone. Ensina-me a responder corretamente, quando toca. Ensina-me a desligá-lo. Se houver uma emergência, ensina-me o meu nome, o endereço e o número de telefone.

O que são bebês? Quando houver um bebê por perto, deixa-me pegá-lo também. Posso ajudar a dar-lhe a chupeta, posso brincar com ele, posso empurrar o carrinho. Faça-me sentir o que é uma família!

Quero ser forte.  Ajude-me a desenvolver a minha força. Dê-me coisas para puxar, empurrar, carregar. Atire-me bolas. Ajude-me a subir em árvores. Deixe-me usar todos os meus músculos!

Procure lugares e coisas para explorar. Caixas do correio, hidrantes, elevadores, escadas rolantes. Ensine-me a diferença entre subir e descer de um elevador. O mundo é uma aventura!

Quando estou com você no carro, fale comigo. Diga-me quais são os sons que ouço, se as estradas são de terra ou asfaltadas. Diga-me quando viramos à direita ou à esquerda, ou se vamos passar uma ponte ou um túnel. Se a janela está aberta, diga-me quais os cheiros que se sente: fumo, óleo, gasolina - todos eles ajudam a identificar onde estamos!

Leve-me às compras com você. Eu sei que consegue fazer as compras mais rapidamente sem mim, mas preciso conhecer as lojas e todos os tipos de compras. Diga-me os nomes e ajude-me a tirar as coisas das prateleiras. Se estão altas, levante-me para eu perceber onde estão. Só consigo aprender, se tocar nas coisas.
Não me coloque no carrinho do supermercado. Leve-me junto de ti, deixe-me cheirar e deslocar-me em direção à carne, aos congelados, ao pão. Fale-me das coisas em que estou a mexer, de como são diferentes umas das outras. Vamos às compras todas as semanas e não só de vez em quando!
Não compres sapatos nem roupa sem me levares. Leve-me contigo e deixe-me experimentar! Se os sapatos são muito grandes ou ficam apertados... não os quero! É tão importante a maneira como me sinto! São pretos? Castanhos? Fecham com velcro ou com cordões? O que é uma camisola? Uma cueca? Um pijama? Mostre-me as diferenças!

Leve-me com você ao médico ou ao dentista. As suas salas cheiram diferentemente de tudo o resto. As pessoas ali falam calmamente. Geralmente, há máquinas que fazem barulhos estranhos. Fale sempre o que vai acontecer e peça à enfermeira que me mostre os instrumentos. Habitue-me ao som do meu coração, ao levantar e ao baixar da cadeira do dentista, ao deitar na maca. Assim vou perdendo o medo e da próxima vez já estou habituado!

Leve-me à escola. Fale com os professores para me incluírem numa classe e poder brincar com as outras crianças.
Leve-me para a praia e deixe-me ir para a água. Cuide de mim, mas deixe que eu tente. Ajude-me a construir castelos na areia, a encher os baldinhos com areia, a apanhar conchas, a subir nas rochas, a atirar pedrinhas na água e a ouvir o "splash"! Deixe-me correr pela praia livremente!

Ensina-me a sentir seguro com os outros. Deixe-me ficar por uma noite na casa de um amigo ou parente. Faça-me sentir que vai voltar e que pode sair sem nada me acontecer. Ensina-me a depender de ti, dos outros e principalmente de MIM!

Deixa-me brincar com as outras crianças. Quero fazer o que os outros fazem! Quero brincar no pátio, correr, comprar doces! Também quero pertencer a uma "turma"!

Também faço anos. Faça me entender que meu aniversário está próximo. Deixe-me fazer festas e planejá-las. Ajude-me a convidar as outras crianças além dos meus primos e tios. Posso apagar as velas e adoro presentes.

Também tenho sentimentos. Fale-me dos sentimentos. Por vezes, preciso de ajuda para entendê-los. Se todos são amorosos comigo, tenho dificuldade em saber o que é: "zangado", "invejoso", "magoado", "contente" ou "triste"...

Não ignores a minha cegueira. Podes falar sobre a cegueira na minha frente. Posso entender a diferença. Se eu fizer algumas perguntas, explica-me o melhor que puderes.

Não desculpes o mau comportamento. Tal como qualquer criança, posso habituar-me a fazer só o que quero! Posso tornar-me facilmente um pequeno ditador! Não mostre favoritismo em relação a mim; tenho que fazer parte da família. Não desculpe sempre as minhas travessuras. Hoje é só mais um dia do resto da minha vida...!

Ajude-me a viver cada dia como um rei. Não te preocupes com os problemas que possam surgir! Resolve um de cada vez! Encoraja-me a experimentar coisas novas. Faça me sentir um membro da família. Orgulha-te de mim e do que faço. Ama-me!
Acima de tudo, ama-me! Haverá muitas coisas que esquecerás de fazer. E haverá outras que te dirão para fazer... mas o mais importante é amarem-me!

«Get a Wiggle on» Escrito por: Sherry Gaynor
Editado por: Lou Afonso - Michigan State University

domingo, 14 de novembro de 2010

Filmes que você não pode deixar de ver! 16. Temple Grandin

16. Temple Grandin, 2010, EUA

De: Mick Jackson, com Claire Danes, Catherine O'Hara ,Julia Ormond, David Strathairn, Charles Baker.

Sinopse: Filme biográfico da jovem autista, na verdade, asperger, Temple Grandin (Claire Danes), que tinha a sua maneira particular de ver o mundo. Se distanciou das pessoas, preferindo estar com os animais, mas chegou a conseguir, entre outras conquistas, a defender seu  pós-doutorado. Com uma percepção de vida totalmente diferenciada, dedicou-se aos animais e revolucionou os métodos de manejo do gado com técnicas que surpreenderam experientes criadores e ajudaram a indústria da pecuária americana.

Comentário: Quando o Emmy (Oscar da TV) começou na noite de 29 de agosto desse ano, o filme “Temple Grandin”, do diretor Mich Jackson, não era o preferido, apesar de receber nada menos do que 15 indicações. O filme foi produzido para a televisão, pela HBO e surpreendeu a todos.  "Temple Grandin” roubou a cena e levou sete estatuetas, incluindo melhor filme para TV, melhor diretor (Mick Jackson), melhor atriz (Claire Danes), melhor atriz coadjuvante (Julia Ormond) e melhor ator coadjuvante (David Strathairn).
A atriz Claire Danes desapareceu na pele de Temple Grandin, absorvendo para si mesma os tiques, o jeito de andar e o modo de falar, e a própria Temple presente no dia do prêmio confirma isso. Temple se veste de forma peculiar, tipo um “cowboy”, e se apresenta em todas as ocasiões dessa forma, tem uma fala monótona e uma andar desajeitado.

A história acompanha desde o período antes da entrada para a universidade, até o reconhecimento nacional de seu trabalho. Não é retratada sua infância, a não ser por algumas citações e lembranças. Temple, nasceu em 1947 e foi diagnosticada com pouco mais de 3 anos como autista, numa década onde ser autista significava ser internado para sempre. Sua mãe não aceitou o rótulo e confiou no potencial de Temple, enviando-a para escolas regulares, mesmo sendo constantemente ridicularizada na escola por colegas insensíveis. Seu jeito peculiar de pensar e seu comportamento anti-social e agressivo eram mal vistos por professores e colegas de escola na infância. Frequentemente brigava com outras crianças, mas superou essa fase e terminou o que chamamos aqui de segundo grau. 
Em férias no sítio de sua tia Anne, antes da ida para a faculdade, Temple se interessa por animais e a partir dessas observações desenvolve a sua “máquina do abraço”, que surpreendentemente foi baseada no “brete”,  um aparelho rústico que, apertado contra o corpo do animal, mantinha-o calmo antes do abate. Temple sabia que era disso que precisava. E a partir daí não sossegou até construir o seu próprio “brete”.  “As fixações podem ser canalizadas para fins construtivos. Remover a fixação pode ser uma imprudência”, diz Temple em sua autobiografia Uma Menina Estranha  (Cia. das Letras, 1999).

Temple formou-se em Psicologia, tendo mestrado, doutorado e pós-doutorado em Ciência Animal. Desenvolve um grande trabalho nas redes de proteção e amparo aos autistas, ministrando palestras pelo mundo todo, explicando e ajudando pais e educadores a entender o autismo, além de criar formas de 'humanização' para o abate de animais, tendo se tornado uma cientista de renome na área de engenharia agropecuária e de comportamento animal. Mais de 50% dos matadouros e criadores de gado americanos, incluindo o Mc Donald’s, utilizam os métodos humanos e designs que ela criou. 
Temple pensa em imagens e, segundo ela, isso foi primordial para o seu sucesso. Ela é incapaz de abstrair. Quando se vê diante de um estímulo, ela responde de forma diferente. Sua mente busca referências concretas, busca imagens e exemplos concretos do assunto tratado, seja uma mera menção a uma árvore, onde ela busca em sua cabeça todas as árvores já vistas, ou a mecânica envolvida na abertura de uma porta automática. Ela assume também que não conseguiria ter desenvolvido a maioria de suas teorias e projetos, não fosse por sua facilidade e sensibilidade de compreender as relações animais e seus sentimentos. Temple diz que sabe como os sentidos dos animais, em especial, do gado, funcionam e compara-os aos seus sentidos e sensações. Paradoxalmente, diz Temple, foi no matadouro que eu aprendi a dar afeto.




O filme dá esperança a pais e educadores e Temple fala sobre a importância desses em sua formação, dando os créditos de seu sucesso a sua mãe e a todos aqueles que acreditaram nela e nunca desistiram.

 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

SOFTWARE EDUCATIVO PARA CRIANÇAS AUTISTAS

Recebi essa informação de Raphael Garcez, designer gráfico (site, e-mail: contato@raphaelgarcez.com), que possui interesse em ajudar terminar esse software, pois ainda esta em fase de projeto, já que não teve apoio público nem privado. As responsáveis são:
Alice Neves Gomes: Designer Gráfica, Universidade Federal do Amazonas
Claudete Barbosa da Silva: Mestra em Engenharia de Produção, Universidade Federal do Amazonas

As duas desenvolveram um software, baseado na metodologia TEACCH de ensino. O objetivo principal do Software é desenvolver a capacidade intelectual aliada a noções de organização, para que a criança autista possa habituar-se a uma rotina educacional. Ressalta-se que é imprescindível a presença de um adulto ou de um profissional da educação que auxilie nas operações, desde o primeiro dia de uso até o momento em que a criança autista se sinta confiante e aprenda a rotina. O software projetado possui um layout que atende as características comportamentais da criança autista ao evitar a complexidade, ou seja, não possui excessos em sua unidade compositiva, a harmonia visual é regular sem a sobreposição de elementos formais que exigem maior atenção para a leitura e compreensão. O jogo das cores e a mistura entre desenhos e fotos conferem um equilíbrio das forças na organização visual da tela.

 O personagem dialoga diretamente com a criança











                                        
                                                     
Horário de Atividades segundo TEACCH

A contribuição desta pesquisa está na inserção do Design enquanto importante recurso visual de comunicação, somando com estudos para a educação inclusiva, favorecendo a integração e o aumento na qualidade do ensino lúdico para crianças autistas.

Alguém quer ajudar? Entre e contato que passo o e-mail da Alice Neves Gomes, responsável pelo Projeto. 

VEJA O ARTIGO COMPLETO AQUI: SOFTWARE EDUCATIVO PARA CRIANÇAS AUTISTAS

 

SOFTWARE PARA TRABALHAR COM AUTISTAS/TID

SOFTWARE DESCOBRINDO EMOÇÕES

Desenvolvido por Creice Barth (NIEE/UFRGS)
M.sc. Liliana Maria Passerino (ULBRA/FEEVALE)
Dra. Lucila M. C. Santarosa (NIEE/UFRGS)

O software Descobrindo Emoções tem como público alvo pessoas com transtornos invasivos do desenvolvimento e autistas, alfabetizados ou não e está baseado em estudos feitos por Baron-Cohen e colaboradores sobre a Teoria da Mente.
O objetivo deste software é trabalhar as incapacidades sociais e comunicativas de pessoas com transtornos do desenvolvimento e autismo através da apresentação de situações-problemas proporcionando um melhor desempenho nas interações sociais diárias dos sujeitos.
A Teoria da Mente significa a capacidade de atribuir estados mentais a ele mesmo e a outras pessoas e dessa forma poder predizer o comportamento dos outros a partir das suas crenças, desejos e intenções representadas no estado mental (Howlin et al., 1999).
Abaixo um exemplo do nível 1.
No nível 1, apresenta-se para o aluno uma situação-problema, e quatro emoções possíveis: feliz, medo, raiva e triste. No exemplo da figura 1 apresenta-se para ele uma situação seguida de uma pergunta "Maria foi ao aniversário de Carla, a pergunta é:
Como Maria está se sentindo?"

A criança selecionará a emoção apresentada nos rostos à direita. A medida que o aluno vai acertando poderá passar para a próxima situação ou para outro nível. No final um Relatório de Desempenho do aluno é gerado através da verificação quantitativa de acertos.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TAMPINHA DA COCA-COLA MAIS ACESSÍVEL!

Com a funcionalidade das mãos comprometidas após meu acidente, parei de comprar refrigerantes pet.  Abrir uma garrafa de refrigerantes era uma tortura. Ficava imaginando quantas pessoas tinham as mesmas dificuldades, por deficiência ou velhice e não entendia como ninguém não pensava num modo de abrir mais acessível. Relatei em duas postagens antigas minha indignação com as maçanetas e embalagens e com a falta de preocupação com um design acessível:  Maçanetas redondas não são acessiveis e Visão Eficiente do Mundo Deficiente
Pois bem, a Coca-Cola pensou! Consegui abrir com menos dificuldades a nova garrafa lançada há pouco no mercado. Ela vem com uma tampinha com relevos por fora que facilita o girar, ajudando quem tem força diminuída nas mãos. Se bem que ao pesquisar sobre essa nova tampinha não li nenhuma menção à “acessibilidade”, mas valeu. 



Os fabricantes do grupo Coca-Cola no Brasil terão até o final do ano que vem para adaptar a nova tampinha em todos os produtos. A minitampa tem apenas duas roscas, contra três da anterior e isso possibilitou uma redução na altura e no peso da garrafa. Pode parecer muito pouco, mas a Coca-Cola conseguiu reduzir custos e o impacto ambiental de seus produtos, com menor consumo de matéria-prima e energia na produção.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL NO AUTISMO - Relato de um caso bem sucedido

Muita coisa já foi escrita e muitas teorias já foram criadas na tentativa de tentar explicar os mecanismos envolvidos nos sintomas autísticos.  A “Teoria da Mente” é uma delas, e procura explicar a habilidade que as pessoas têm de atribuir estados mentais a si e aos outros, ou seja, procura explicar como uma pessoa atribui a ela mesma e/ou a outras pessoas, as emoções, as crenças os desejos e as intenções e o faz de conta. Os autistas possuem um déficit nessa capacidade de construir "teorias da mente", que dificulta não só a compreensão da própria mente como também a compreensão da mente de outras pessoas.  Ao mesmo tempo em que ele não sabe como funciona o mundo e as pessoas, não sabe também como ele próprio funciona. Não é capaz de avaliar porque estamos tristes ou bravos, por exemplo, ou de prever nossas reações e conhecer nossas expressões faciais.

Por exemplo, costumo fazer o mesmo trajeto para levar meu filho à escola. Hoje uma das ruas está interditada e mudo o trajeto. Uma criança sem autismo entende que essa mudança em nada vai afetar o seu dia na escola, no máximo um atraso.  Mas a criança com autismo não pode “prever” ou entender que essa mudança não afetará seu dia. Ela guarda na memória todas as ações, atividades e trajetos até chegar à escola e uma mudança gera ansiedade, medo e recusa. Por isso, se apega em rotinas. As rotinas são previsíveis. Daí ela se torna inflexível e fará de tudo para que esse trajeto não seja mudado.

Essa falta de habilidade é estendida para a identificação de emoções, tanto em si, quanto no outro. Sabemos quando nosso coração bate aceleradamente por medo, alegria, susto ou até felicidade. O autista, alguns em menor grau e outros severamente, não reconhece essas diferenças.  Ele sente apenas o coração batendo aceleradamente e não identifica se está correndo perigo ou se está feliz. A sensação e a reação pode ser a mesma para os dois fatos.

O autista também não brinca de “faz de conta”. Não usa uma colher, por exemplo, como microfone, ou uma caixa de papelão como um carrinho. Seria muito complicado se ele tivesse que memorizar todos os usos de uma colher. Para o autista as coisas são ou não são. Não entende também quando você tenta brincar de aviãozinho para alimentá-lo ou não sabe brincar com uma boneca, que nada mais é do que “um faz de conta”.

Esse caso ilustra de forma clara a “teoria da mente” e relatarei aqui o início dos atendimentos desse adolescente encantador de 16 anos com autismo. Seu autismo é de grau leve para médio, contudo apresentava muitas esteriotipias e distúrbios comportamentais.
Aprendi com eles que nada deve ser feito ou mudado sem antes informá-los e então orientei a mãe como deveria proceder para trazê-lo às sessões. Paulo, como o chamarei aqui, já havia sido treinado com o sistema de horários do TEACCH (Promovendo a Aprendizagem para Autistas) e bastou ser acrescentado o cartão da “Psicóloga” em seu “horário de atividades” de casa. Antes a mãe o trouxe ao consultório por quatro vezes, as terças e quintas, no horário combinado e associou a ida ao cartão. Na primeira vez ele apenas entrou na sala e explorou-a, na segunda fiz o sentar e na terceira ficou 20 minutos. A partir daí ele já aceitou vir e ficar de 40 a 60 minutos comigo. Foram seis sessões de avaliação onde suas habilidades e dificuldades foram levantadas e junto com a família traçamos alguns objetivos. O primeiro foi trabalhar suas reações extremas e de auto-agressão frente a barulhos altos, frente a medos, a felicidade, raiva e tristeza. Paulo se descontrolava quando ouvia foguetes estourando ou barulhos muito altos e estranhamente tinha os mesmos comportamentos frente a manifestações de alegria, tristeza e medo.

Comecei então com balões.  Primeiro vazios, é claro. Fiz muitas atividades com balões. Brincamos de enchê-los com água, usamos como barbante para consertar carrinhos, recortamos e fizemos colagem e amarramos uns aos outros para fazer uma grande corda, que ele adorou.  Agora passamos para a fase de enchê-los. Um pouco só, evitando estourá-los. Bolei algumas atividades também com os balões meio cheios, como fazê-los assoviar, sair voando quando soltos, entre outras.  Tudo bem até aqui. Precisava agora fazer com que ele estourasse um balão com um alfinete. Permiti que tampasse bem os ouvidos e eu estourei um. Ele começou a se auto-agredir, como fazia, mas parou logo e ficou esperando que eu estourasse outro. Coloquei sua mão sobre o seu coração e disse “susto”, mostrando o cartão de um balão estourando. Tentei novamente. Coloquei-lhe um protetor auricular e estourei outro e antes que ele pudesse se morder, peguei sua mão, coloquei-a no coração e disse “susto”, mostrando novamente o cartão. Depois de algumas sessões ele já não precisava mais  tampar os ouvidos. Eu lhe mostrava o cartão antes, permitindo assim que ele pudesse saber o que iria acontecer e se preparar, dava-lhe o alfinete e ele mesmo estourava. 

Foram seis meses trabalhando com “sustos”. Levei jogos que “dão sustos”, como o “Pula Pirata”,  entre outros, sempre trabalhando juntamente com os cartões, agora eram dois, um com o balão estourando, onde eu falava “estouro” e outro ilustrado com um menino com uma expressão assustado, que eu denominava apenas “susto”. Estava tentando associar à emoção a expressão facial com esse segundo cartão. Minha intenção era retirar o cartão do balão estourando e usar apenas a da expressão facial na identificação da emoção.
Precisava agora mostrar-lhe a diferença entre “levar um susto”, onde o coração bate aceleradamente e “ficar feliz”, onde o coração também bate depressa. Ele reagia com auto-agressões quando feliz, assustado, triste, com raiva ou medo. Para isso contei com a ajuda da família. Selecionamos várias situações que o agradavam muito e onde ele se auto-agredia. Reproduzi-as em consultório, agora mostrando-lhe o cartão do que iria acontecer e o cartão de um menino feliz e dizia “feliz”, colocando sua mão no coração para perceber que também batia depressa.
Não precisou de muito tempo para ele perceber que as duas coisas faziam seu coração bater loucamente, mas que ele saberia como enfrentar, pois agora ele sabia o que sentia.
Sua mãe começou a usar os dois cartões em casa, o do “susto” e o da “felicidade”, bem como outros que foram treinados posteriormente, como o cartão da “raiva”, do “medo” e o da “tristeza”. Sempre ela usava um cartão para identificar o que iria acontecer e o da expressão facial para identificar o sentimento e prepará-lo para a situação. Acreditamos que ele compreendeu o significado de “emoções” quando seu carrinho quebrou e ele buscou o cartão da “raiva” e do “susto”, mostrou a sua mãe, colocou a mão no coração e disse: “coração bate”. Sua mãe, acertadamente, trocou os dois cartões pelo da “tristeza”, fazendo com que ele se definisse melhor.
Montamos um caderninho que ele carrega no bolso com todos os cartões. Na escola, as professoras o ajudam a identificar suas emoções com os cartões, preparando-o para as situações que irão acontecer. Por exemplo, no dia da natação, que lhe causa enorme felicidade e prazer, em seu horário de atividades, antes do cartão da natação, está o cartão da felicidade. Assim, é permitido que ele saiba de antemão o que irá acontecer e como ele irá se sentir. Antes, por ser tudo a mesma coisa, ou melhor, por ele considerar todas as emoções iguais, medo, susto, raiva, alegria e tristeza, ele não sabia como reagir. Tudo que faz bater o coração forte e rápido é perigoso, é medo, é susto, portanto, preciso me defender.  Ás vezes, não podemos prever com antecedência o que irá acontecer, então, se estourava um foguete na rua, a professora pegava imediatamente o cartão do “susto” e lhe mostrava, apagando qualquer chance dele se auto-agredir e se sentir ameaçado.

Não sei se Paulo um dia irá largar seus “cartões de emoções”, como eu os chamo. Mas fazê-lo entender esses sentimentos básicos, abriu-lhe muitas outras portas e o fez mais tranqüilo. Deve ser muito difícil sentir alguma emoção e achar sempre que é medo, como Paulo achava. Ainda acontecem imprevistos, mas contornáveis, e outros cartões se somaram aos cinco iniciais, como o da “dor” e da “paixão”. Sim, o coração de Paulo bateu mais depressa por uma menina, pode isso?

Essa foi a primeira fase. Ainda trabalhamos outras dificuldades, comportamentos e esteriotipias. Mas isso fica para um próximo post.

VEJA TAMBÉM: PROMOVENDO A APRENDIZAGEM PARA AUTISTAS 
                     FACILITANDO A COMUNICAÇÃO PARA AUTISTAS

REVISTA AUTISMO - EDIÇÃO NÚMERO 0

REVISTA AUTISMO - EDIÇÃO NÚMERO 0
Pais brasileiros criam a primeira revista de autismo na América Latina, com 100% de voluntariado.

REVISTA AUTISMO - EDIÇÃO NÚMERO 1

AGENDA PÚBLICA - REVISTA AUTISMO

VISITE O BLOG DO ARTEAUTISMO E ...

VISITE O BLOG DO ARTEAUTISMO E ...
... CONHEÇA FILIPE, O ARTISTA QUE PINTOU ESSE QUADRO.

Campanhas

Campanhas
Manifesto Ser Diferente é Normal!

UNIQUE TYPES É UM MOVIMENTO CONTRA O PRECONCEITO

UNIQUE TYPES É UM MOVIMENTO CONTRA O PRECONCEITO
Usando as fontes você apoia a causa da AACD, mostrando que os os deficientes físicos podem fazer praticamente tudo que as pessoas sem deficiência podem.

Campanha 2010, tome uma atitude!

VERDE VIDA - Divulgue essa idéia!

VERDE VIDA - Divulgue essa idéia!
Visite o Blog

Campanha Pegada Ecológica - Calcule a sua!

Que marcas você quer deixar no planeta? Calcule sua Pegada Ecológica.

AMPUTADOS VENCEDORES - PARCEIRO

Amputados Vencedores

BLOG DA AUDIODESCRIÇÃO

BLOG DA AUDIODESCRIÇÃO
CONHEÇA, DIVULGUE!